O que o seu almoço e jantar têm a ver com civilidade, tolerância e democracia? Para a cientista política norte-americana Janet Flammang, tudo.
Ela é autora do livro The Taste for Civilization – Food, Politics and Civil Society (o gosto pela civilização – comida, política e sociedade civil), e neste domingo concedeu entrevista a Cristina Fibe, da Folha de S. Paulo.
O Blog Mundo Possível reproduz neste post as respostas da entrevistada.
Clique aqui para ler a entrevista completa no site da Folha.
Refeição e democracia
“Desenvolver a arte da conversação é extremamente importante para aprender a discordar de forma civilizada. E aprendemos essa arte à mesa. Quanto menos tempo dedicamos às refeições, mais colocamos essa habilidade em perigo. À mesa, há um incentivo para discordar sem dar aos outros uma indigestão. Muito da política atual nos EUA é uma política de ataque, na qual se quer marcar pontos e derrubar o oponente, e não ouvir. O foco do livro é a conversação. A conversa não é uma discussão, há regras sobre como ouvir, esperar a vez e guardar o que tem a dizer. A coisa mais próxima de uma conversa é a diplomacia, que todos nós achamos ser extremamente importante. O que me intriga é: por que não estudamos como fazer as pessoas se comportarem com diplomacia?”
Menos conversa
“Há muitos estudos que indicam que gastamos, em média, 20 minutos no jantar, à mesa, e mais e mais pessoas já nem se sentam para dividir uma refeição, pegam algo e saem correndo. Meu livro é sobre a situação americana, mas há evidências de que outras culturas estão se tornando mais como os EUA, onde o trabalho é a coisa mais importante e você é consumido por atividades. As pessoas não param para pensar no custo de não se sentar e ter conversas, e cara a cara, porque é claro que muita coisa hoje é eletrônica”.
A falta de civilidade nos EUA?
“Podemos começar pelo Congresso. Tem havido forças-tarefa pela civilidade promovidas por congressistas, que dizem que perdemos a civilidade na Casa, a habilidade de socializar com pessoas de outro partido e de discordar. Muito disso se relaciona à chamada revolução republicana de 1994, quando Newt Gingrich tomou conta [da Câmara dos Representantes]. Muitos veem isso como um ponto-chave, porque ele disse aos republicanos que voltassem aos seus distritos todos os finais de semana e não mudassem suas famílias para Washington. Isso significou que havia muito pouca socialização entre congressistas. Hoje, as salas de jantar estão vazias, eles não socializam”.
A horta orgânica de Michelle Obama
“Qualquer coisa que a Casa Branca faça tem grande importância simbólica. E as pessoas que trabalham na Casa Branca estão muito mais sensíveis a essas questões do que antes. Não só o Departamento da Agricultura, mas outros departamentos estão mais preocupados com produtos de qualidade e com a crise da obesidade. Michelle não tem poder oficial, mas, nos EUA, o comportamento da “primeira família” tem grande importância simbólica.”
Os rituais alimentares e a vida moderna
” Depende de cada lar, não há uma resposta única. Sei que em lares em que os salários são baixos é muito difícil, mas a primeira medida a tomar é encontrar uma maneira para que haja pelo menos um jantar comum [por semana]. Questiono também o número de horas que os americanos dedicam ao trabalho. Devemos ter cargas horárias mais humanas, para que os pais possam voltar para casa antes de os filhos dormirem. A Europa tem dias mais curtos e igual produtividade. Falo no livro sobre o modelo europeu de menos horas, mais tempo para a vida.”
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