Consumo

Buffet orgânico do Rio de Janeiro é apresentado como caso de sucesso no encontro Terra Madre, em Turim, na Itália

A microempreendedora individual (MEI) Regina Coeli está de malas prontas para dar uma palestra em Turim, cidade ao norte da Itália. Trabalhando ainda como empregada doméstica, mas já à frente do Buffet Favela Orgânica, do Chapéu Mangueira, comunidade da zona sul do Rio de Janeiro, ela participa do encontro Terra Madre, que vai reunir representantes de 148 países. O convite partiu dos representantes brasileiros do Slow Food, associação internacional organizadora do evento, que começa nesta quinta-feira (25) e segue até o dia 29.

A defesa de novos padrões de consumo de alimentação e a valorização de produtos regionais são alguns dos princípios do Slow Food. Regina nunca tinha ouvido falar no assunto, mas já vivenciava o conceito na prática em Serrinha, município do Brejo paraibano, onde viveu até a adolescência. “Na minha terra tudo se aproveita. Fiquei chocada quando cheguei aqui e vi a quantidade de comida que ia para o lixo”, explica.

Há pouco mais de um ano, a MEI passou a organizar encontros para ensinar as vizinhas a reaproveitar alimentos. Pela Agência Redes para a Juventude, que promove iniciativas em comunidades cariocas, e que conta com o apoio do Sebrae do Rio de Janeiro, ela conseguiu um capital de R$ 140 para comprar a matéria-prima. Na primeira atividade, apareceram seis interessadas, agora, mais de 20 pessoas vão às oficinas, realizadas com frequência.

Brigadeiro de casca de banana, yaksoba de casca de abóbora e pão de inhame são alguns exemplos das receitas ensinadas por Regina. Pelas suas mãos, quiches, tortas, doces e pastas têm como ingredientes cascas de frutas, legumes e verduras como abobrinha, cenoura e batata, além de talos como os de couve e agrião. E ela ainda ensina técnicas de compostagem para que as sobras se transformem em adubo.

Com o sucesso dos encontros, começaram a aparecer convites para organizar bufês e com eles a dificuldade para estabelecer o negócio. Regina conta que perdeu muita oferta de trabalho porque não tinha nota fiscal. Por indicação de uma amiga, procurou o Sebrae no Rio de Janeiro. Orientada, decidiu se formalizar em setembro deste ano.

Ela também frequentou todas as oficinas Sebrae Empreendedor Individual (SEI), onde adquiriu conhecimento sobre temas como empreendedorismo, finanças e administração. “Aprender como calcular o preço dos produtos foi uma das coisas mais importantes. Já dobrei o valor e continua muito barato. Mas, estou estruturando o meu negócio e sei para onde vou. Também aprendi a manipular alimentos e organizar minha cozinha”, reconhece a microempreendedora, que já contrata mão de obra para seus trabalhos.

Respeito

No currículo do Buffet Favela Orgânica já constam dois eventos internacionais: a Rio+20, conferência que discutiu a sustentabilidade, em junho, da qual ela participou como convidada; e o 5º Fórum Mundial de Negócios Sociais (SEWF, sigla em inglês para Social Enterprises World Forum), realizado na semana passada, também na capital fluminense. “Já pedi demissão do emprego e, a partir de dezembro, vou cuidar apenas do meu bufê. O registro de microempreendedora individual me deu firmeza, sinto que sou empresária e meu trabalho é respeitado e apreciado”.

A primeira viagem internacional não assusta Regina e o tema Como se alimentar bem menos ainda. E a empreendedora teme falar em um evento que deve receber mais de cinco mil participantes entre chefs, especialistas e produtores de todo o mundo? “Que nada, tem sempre muito gringo nos meus cursos, estou acostumada. O que mais me orgulha mesmo é saber que estou sendo convidada por quem pensa em comida do mesmo jeito que eu. Encontrei a minha turma. Sempre soube que era danada”, diverte-se.

Por Regina Mamede

Da Agência Sebrae

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