Opinião

Consumidor precisa cobrar ações sustentáveis e logística reversa de fabricantes de eletroeletrônicos

RECIFE – Tive oportunidade de conversar recentemente com executivos de uma famosa marca TV sobre seus últimos lançamentos da companhia aqui no Brasil.

Eles sabiam tudo sobre o mercado, a preferência dos clientes e as tendências tecnológicas.

Estavam orgulhosos de mostrar modelos inteligentes e integrados à Internet, com telas de dimensões gigantescas e imagens super nítidas.

Os preços eram proporcionais aos recursos tecnológicos e à dimensão dos aparelhos, mas meus interlocutores garantiram que os produtos estavam mais acessíveis, com crédito e pagamentos facilitados, e por isso os clientes se mostravam dispostos a trocar de equipamento com mais frequência que no passado.

Rotatividade de produtos leva ao descarte precoce, que leva ao aumento de resíduos.

Resolvi perguntar como era feito o recolhimento dos aparelhos velhos, usados e quebrados.

Como era feita, portanto, a logística reversa, prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos, a Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010.

O texto determina que o fabricante é responsável pelo descarte final dos resíduos gerados por aquilo que produz, mesmo que o produto tenha sido usado pelo cliente.

O principal executivo da marca de TV sentado à mesa não soube responder à pergunta. Em outras palavras, disse que essa não era a área dele.

Perguntei então ao responsável pelo setor de marketing se a empresa tinha ações sustentáveis.

Ele disse que o conceito de sustentabilidade da marca estava sendo testado no país de origem, localizado na Ásia, e que em seguida seria aplicado no restante do mundo, incluindo o Brasil.

Ou seja, no momento não existem ações sustentáveis em solo brasileiro.

Saí do encontro frustrado e preocupado ao ver uma empresa tão conhecida, tão dedicada ao avanço tecnológico e, ao mesmo tempo, tão alheia aos problemas que ela mesma causa à sociedade e ao meio ambiente.

Resta ao consumidor cobrar, perguntar e exigir na hora da compra.

É bem provável que boa parte dos clientes asiáticos, europeus e norte-americanos dessa mesma marca já façam isso em seus países de origem, o que força a empresa a ter atitudes mais responsáveis.

Nesses lugares é difícil ver televisores velhos boiando nos rios e poluindo a água e o solo, como ocorre no Brasil e em outros países onde o consumo consciente é ainda um conceito em consolidação.

Resolvi então consultar o ranking elaborado todo ano pelo Greenpeace com as fabricantes globais de eletrônicos a partir de suas ações de preservação ambiental.

O ranking, no entanto, considera apenas as ações da linha de produção de celulares, mas dá para ter uma ideia da política de dois pesos e duas medidas praticada pela empresa, que está fora das Top10, embora seja uma das principais fabricantes do mundo.

Segundo o Greenpeace, a empresa em questão tem um programa nacional de reciclagem nos Estados Unidos e pratica a logística reversa de forma voluntária em metade dos 50 países onde está presente.

No entanto, é negligente nos países da África, América Latina e Oriente Médio.

O Brasil, um de seus principais mercados consumidores, agradece a atenção.

Por Antônio Martins Neto

Editor do Blog Mundo Possível

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