A China e os Estados Unidos devem anunciar conjuntamente a ratificação do Acordo do Clima de Paris antes mesmo da reunião do G20 (grupo formado pelas vinte maiores economias do mundo), que começa no próximo dia 04 de setembro em Hangzhou, no sudeste da China.
Segundo o jornal South China Morning Post, que adiantou a informação, funcionários sêniores de ambos os países trabalharam até tarde da noite em Pequim na última terça-feira (23) para finalizar os detalhes do comunicado bilateral de Barack Obama e Xi Jinping.
“Há ainda algumas incertezas do lado dos EUA devido ao complicado sistema norte-americano para ratificar tratados, mas é bastante provável que o anúncio esteja pronto até 02 de setembro”, disse ao jornal uma fonte que não quis ser identificada.
Se ambos os lados anunciarem a ratificação na data especulada, será a última grande declaração conjunta entre os dois líderes antes de Obama deixar a Casa Branca.
EFEITO CASCATA

China e EUA representam cerca de 38 por cento das emissões globais de gases de efeito estufa, de acordo com o World Resources Institute.
Ao ratificar o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, Pequim e Washington poderiam gerar uma dinâmica para que o acordo entre em vigor como um tratado internacional vinculante (obrigatório).
O Acordo de Paris, aprovado pelos representantes de 195 países em dezembro do ano passado, visa manter o aumento da temperatura média global abaixo de dois graus Celsius com base nos níveis pré-industriais.
Os países começaram o processo de ratificação do documento em 22 de abril deste ano, no Dia da Terra, e até agora 23 nações se juntaram, mas são responsáveis por apenas um por cento das emissões.
O tratado entrará em vigor após 55 países que representem pelo menos 55 por cento das emissões ratificarem o acordo ou aderirem ao documento de outras maneiras.
A China havia dito anteriormente que iria ratificar o acordo antes da reunião do G20 deste ano.
Em junho, os EUA disseram que iriam “trabalhar para” aprovar o texto até o final do ano, com a Casa Branca ansiosa para selar uma parte fundamental do legado de proteção ambiental de Obama antes dele deixar o cargo, o que deve ocorrer em janeiro.
A lei dos EUA permite à nação aderir a acordos internacionais por uma série de maneiras, inclusive pela autoridade do presidente.
Caso China e EUA de fato ratifiquem o Acordo de Paris, alguns especialistas acreditam que o documento pode atingir o limiar de 55 por cento antes do final do ano.
EXIGÊNCIA DO MERCADO
Ontem, investidores que representam mais de 13 trilhões dólares em ativos pediram aos líderes do G20 para que ratifiquem o acordo antes do final de dezembro.
Os 130 investidores também desafiaram as nações do G20 a dobrar o investimento global em energia limpa, desenvolver a precificação do carbono e eliminar progressivamente os subsídios aos combustíveis fósseis.
“Os governos devem ratificar o acordo de Paris rapidamente e têm a responsabilidade de implementar políticas que conduzam melhor a divulgação do risco climático, reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis e, no lugar, dar sinais fortes de preço para catalisar um investimento significativo do sector privado em soluções de baixo carbono”, disse Stephanie Pfeifer, diretora-executiva para investidores institucionais do Grupo Sobre Mudança do Clima, em entrevista ao South China Morning Post.
Mas a ratificação pode trilhar caminhos mais ou menos tortuosos nos EUA e na China.
Enquanto a China tem “poucas incertezas” quanto à aprovação interna do acordo, nos EUA o assunto pode causar controvérsia, segundo Liu Shuang, executivo do Programa de Desenvolvimento de Baixo Carbono da Energy Foundation.
No entanto, o compromisso do governo Obama com as estruturas internacionais sugere que o acordo será ratificado de uma maneira que ficará difícil para seus sucessores retrocederem.
TRABALHO CONJUNTO
Os dois países começaram uma ampla cooperação a nível de liderança em 2014. Em uma declaração comum, naquele ano, a China se comprometeu a atingir o pico de suas emissões antes de 2030, enquanto os EUA prometeram reduzir as emissões em pelo menos 26 por cento. O trabalho conjunto das duas maiores economias do mundo teria, portanto, pavimentado o caminho para o Acordo de Paris.