A revelação se deu em janeiro de 2006. Colin Beavan, escritor norte-americano então com 43 anos, desparou-se na rua de casa com jovens de camiseta e short em pleno inverno. Eram universitários que viviam num alojamento vizinho ao prédio onde ele morava com a mulher e a filha, de apenas uma ano e meio. O calor num mês em que os termômetros deveriam marcar temperaturas próximas de zero era o sinal mais evidente de que o aquecimento global chegara a Manhattan e, como bom morador da cidade que nunca dorme, Beavan deveria se manter desperto e reagir. Nascia No Impact Man, ou Homem Sem Impacto, projeto no qual Beavan se comprometia a eliminar suas pegadas ecológicas no período de um ano. Detalhe: sem abandonar o apartamento no charmoso bairro de Chelsea, um dos endereços mais caros de Nova Iorque.
O primeiro desafio foi convencer o agente literário de que a experiência daria um bom livro. O segundo, fazer com que a mulher, jornalista na revista Business Week, desistisse das roupas de grife e das facilidades da vida moderna para viver literalmente nas trevas em meio à luz cintilante da cidade mais cosmopolita do mundo – a família passou seis meses sem energia elétrica. Mas Beavan se revelou um bom pregador e ambos foram convertidos.
O Homem Sem Impacto costuma comparar a experiência à vida num monastério. Mas o processo se assemelhou mais a uma desintoxicação. A purificação foi atingida com a redução do lixo doméstico, depois que a família se livrou de assinaturas de revistas e jornais, comidas embaladas em plástico e papelão, material de limpeza agressivo ao meio ambiente e até … papel higiênico. A TV, vista como um santuário de devoção ao consumo desenfreado, foi desligada e colocada da porta pra fora. A bicicleta e o patinete viraram os principais meios de transporte. Nada de carro, táxi, ônibus, metrô e muito menos avião.
Beavan garante que encontrou a verdadeira felicidade. Tudo devidamente registrado num documentário, num livro e num blog. E também pelas páginas dos principais jornais, revistas e TV’s dos EUA, como The New York Times, New York e ABC. A experiência e a fama repentina chancelavam a tranformação do escritor de livros de história em ativista ambiental. O blog Mundo Possível conversou com Colin Beavan num charmoso e descolado café do Brooklyn, novo endereço do escritor, que chegou a pé para o encontro e tomou apenas um cappuchino. Orgânico.
Por Antônio Martins Neto
Editor do Blog Mundo Possível
Veja abaixo a quarta edição da coluna Mundo Possível no Uol Mais